25 setembro 2016

o tempo das romãs ou as cinco etapas a seguir quando pensarem nas prendas de Natal


A semana passada o meu pai trouxe-me, da terra, as primeiras romãs. Há frutos que ainda marcam a sucessão das estações e a romã é um deles. Começa a aparecer no início do Outono e traz-me sempre a nostalgia dos dias pequenos, do frio, e do conforto de estar em casa.
Hoje estamos precisamente a três meses do próximo Natal e é já um tempo tão próximo que não podemos descurar muito a organização das prendas.
A prendas feitas por nós têm um gosto muito especial e por isso, mais do que as outras, devem ser pensadas atempadamente e de uma forma muito pragmática. É certo que não conseguimos fazer todas os projectos que gostariamos e por isso há que racionalizar os meios: tempo e orçamento. De uma forma prática podemos estabelecer 5 etapas para acabar a tempo as nossas prendas.

1- Devemos fazer o levantamento das pessoas a quem pretendemos oferecer prendas feitas por nós. Só este tema faria correr muita tinta. Mas aconselho a estabelecer uma lista com as prioridades. Não quer dizer que o mais prioritário sejam as pessoas afetivamente mais próximas. No caso de não apreciarem o nosso trabalho, por exemplo, não vale a pena o investimento em detrimento de outros casos.
Claro que esta prioridade deve ser estabelecida por cada um e não há regras a apontar.
Vamos supor que tenho na lista 5 pessoas (é pouco, mas é realista)

2- Há que ver qual o tempo que temos disponível para executar as peças. E então devemos ser bem realistas. Se é do serão que dispomos e apenas algumas horas ao fim de semana, não devemos contar com essa disponibilidade todos os dias porque podemos ter outro compromisso, estarmos doentes etc. Devemos pois contar com cerca de 2/3 do tempo que inicialmente prevemos ter disponível.
Imaginem que posso gastar por semana 4 serões de 2 horas até dia 18 de Dezembro. Isso vai-me dar cerca de 14 semanas e um total de 96h. Se contarmos com 2/3 ficamos com 64h. Pois é os três meses estão reduzidos a 64 "míseras" horas.

3- Vamos também escolher as peças para cada uma das pessoas da lista de "eleitos". A maioria das pessoas sabe fazer uma estimativa das horas que gasta a fazer determinado tipo de projecto. Um gorro pode ser feito em menos de 4h e um quilt pode levar mais de 20h. Tendo em conta que da minha lista constam 5 pessoas tenho cerca de 12 h para cada projeto e por isso posso fazer algumas peças mais ambiciosas se "roubar" algum tempo a outras mais simples.
Imaginem que tendo somado as estimativas dos tempos que pensam gastar em cada projeto, o tempo total ultrapassa as 64h. Podem ter várias alternativas: mudar para um projetos mais simples, investir um pouco mais de tempo numa determinada peça que querem mesmo fazer (sabendo de antemão onde ir tirar o tempo). Imaginem que pretendem tricotar um cachecol muito trabalhado: podem fazer um ponto mais simples ou aumentar a espessura do fio.

4 - Feito este levantamento é bom também estabelecer os limites que o nosso orçamento nos permite. Não é por ser feito à mão que uma oferta é menos dispendiosa e custo deve ser avaliado à priori.

5- Estabelecer datas limite para terminar cada peça. Parece sempre que o tempo é muito e se não compartimentarmos o tempo destinado a cada peça, corremos o risco de chegar ao Natal com metade ou tudo por acabar.

Mais do que tudo, sejamos práticos, realistas sem deixar de ser entusiastas porque não há nada melhor que ver a expressão de alguém que recebe uma prenda feita por nós e a aprecia realmente.



18 setembro 2016

O que é criatividade

Curiosamente a minha atividade profissional sempre teve uma grande componente criativa. Antes, quando trabalhava em investigação e agora que me dedico a ensinar com panos e fios.

Ao longo deste percurso sempre ouvi pessoas que dizem ter dificuldade em criar, que não têm imaginação e outras frases similares.

E afinal o que é ser criativo? Haverá milhentas definições, mas esta é a minha:
 Ser criativo é sobretudo saber gerir o saber e arriscar. A acrescentar a isto, a prática das duas coisas.

Nada nasce do nada. Todos os projectos que vemos baseiam-se em somatórios de experiências anteriores às quais se adicionaram um ou outro aspecto. Às vezes é a própria junção de experiências que é inovadora e permite uma nova criação.
Vou explicar isto de uma forma mais prática. A Ana B. é minha aluna de tricot há algum tempo e já adquiriu muita experiência em técnicas nas quais está perfeitamente autónoma. Uma delas é a construção de uma peça top-down.
Há tempos mostrou-me um ponto do qual gostou muito e disse-me que gostaria muito de fazer uma peça para a Matilde com esse ponto. devo dizer que a Ana gosta de cor e é particularmente meticulosa na escolha.

Dito tudo isto, a Ana criou esta peça que não é mais que uma boa gestão do conhecimento, do seu gosto e de não ter medo de meter em prática as suas ideias.
Este é o resultado. Um bom e lindo resultado!
Todas as pessoas podem criar. Não tem de ser nada de complexo ou extraordinário. Já a todos aconteceu ver qualquer coisa muito bonita e simples e dizermos "que ideia gira". A questão é mesmo começar, pôr em prática o que já sabemos, acrescentar ideias, fazer rabiscos, escolher materiais, pensar em cores e, sobretudo, não ter medo do resultado.

12 setembro 2016

As amostras de tricot - 4 - Que amostras fazer para mostruário?

De vez em quando dá-me a saudade do blogue mas o tempo curto e a desabituação de aqui vir, têm levado a melhor. No período de férias propus-me regressar numa cadência própria, sem compromissos a priori. De uma forma que me desse prazer a mim e a quem pacientemente ainda aguarda que eu aqui escreva.

E numa internet profusamente cheia de dicas, tutorias, estilos de vida, conselhos, receitas de tudo e mais alguma coisa, vidas públicas e privadas, que temas tratar?
E porque não as pequenas coisas? Por vezes são aquelas que nos dão prazer ou o suporte de outras mais arrojadas.

E as amostras são uma delas. O meu pouco tacto de organização e os anos de acumulação de amostrinha aqui, amostrinha ali, fizeram com que tivesse uma séria descoordenada de amostras, algumas delas pouco apetecíveis, sem falar nas que se foram perdendo. E achei que era tempo de as organizar.

Há essencialmente duas razões para fazermos uma amostra.

  • Porque precisamos de fazer uma peça e temos de fazer os cálculos para a montagem das malhas ou para aferir a tensão do fio em relação à do modelo ou
  • Porque encontrámos um ponto muito bonito e queremos guardá-lo para futuras peças
Em relação à primeira situação,  já falei em vários posts sobre as amostras a fazer antes de iniciar o projecto de tricot, como escolher as agulhas e os fios e ainda como bloquear as amostras. Sobre este tipo de amostras voltarei a falar um dia mas, por agora, é das outras, daquelas que guardamos na nossa coleção, que irei falar.



Que amostras fazer para guardar?

Questionei-me várias vezes, agora que iniciei a preparação da minha coleção, que amostras fazer. Tive a tentação de começar pelos pontos mais complexos mas imediatamente desisti da ideia e comecei precisamente pelos pontos clássicos e mais simples. Porquê?

  • São estes pontos que mais frequentemente usamos
  • Se são clássicos é porque são intemporais e resultam quase sempre bem
  • Apesar da maioria ser muito simples, nem sempre nos lembramos como se fazem os pontos. Há cerca de dois anos fiquei bloqueada quando quis fazer a tradicional espinha de bacalhau. Se tivesse feito a amostra, bastava desmanchar um bocadinho ou ler a receita (que deve acompanhar a amostra)
  • O facto de estarem feitas e visualmente presentes é muito sugestivo quando queremos iniciar um trabalho. Já deve ter acontecido a todos, querer fazer um "pontinho" num casaco de bébé e nada ocorrer!
  • Observarmos vários pontos permite-nos ver aqueles que combinam bem, diferenças de elasticidade entre si etc.


E já agora, foram estes os pontos que já "amostrei":

  • bago de arroz (na foto)
  • espinha de bacalhau
  • ponto inglês (na foto)
  • canelado um por um
  • canelado dois por dois
  • canelado três por dois
  • ponto de arroz duplo
  • ponto de grosa


Sempre que falar aqui no blogue sobre amostras vou dizendo (e mostrando) os progressos do meu mostruário. Combinado?